domingo, 18 de novembro de 2012

SAUDAÇÃO Á PALMARES



                              Nos altos cerros erguido
     Ninho d'águias atrevido,
     Salve! — País do bandido!
     Salve! — Pátria do jaguar!
     Verde serra onde os palmares
     — Como indianos cocares —
     No azul dos colúmbios ares
     Desfraldam-se em mole arfar! ...


     Salve!  Região dos valentes
     Onde os ecos estridentes
     Mandam aos plainos trementes
     Os gritos do caçador!
     E ao longe os latidos soam...
     E as trompas da caça atroam...
     E os corvos negros revoam
     Sobre o campo abrasador! ...


     Palmares! a ti meu grito!
     A ti, barca de granito,
     Que no soçobro infinito
     Abriste a vela ao trovão.
     E provocaste a rajada,
     Solta a flâmula agitada
     Aos uivos da marujada
     Nas ondas da escravidão!


     De bravos soberbo estádio,
     Das liberdades paládio,
     Pegaste o punho do gládio,
     E olhaste rindo pra o val:
     "Descei de cada horizonte...
     Senhores!  Eis-me de fronte!"
     E riste... O riso de um monte!
     E a ironia... de um chacal!...


     Cantem Eunucos devassos
     Dos reis os marmóreos paços;
     E beijem os férreos laços,
     Que não ousam sacudir ...
     Eu canto a beleza tua,
     Caçadora seminua!...
     Em cuja perna flutua
     Ruiva a pele de um tapir.


     Crioula! o teu seio escuro
     Nunca deste ao beijo impuro!
     Luzidio, firme, duro,
     Guardaste pra um nobre amor.
     Negra Diana selvagem,
     Que escutas sob a ramagem
     As vozes — que traz a aragem
     Do teu rijo caçador! ...


     Salve, Amazona guerreira!
     Que nas rochas da clareira,
     — Aos urros da cachoeira —
     Sabes bater e lutar...
     Salve! — nos cerros erguido —
     Ninho, onde em sono atrevido,
     Dorme o condor... e o bandido!...
     A liberdade... e o jaguar!   CASTRO ALVES

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